Depoimentos |
Um donativo inesperado |
Eu tinha 20 e poucos anos quando fui requisitada por minha mãe, que integrava a diretoria do Prato de Sopa, a colaborar em uma das campanhas que eles promoviam. Era a Campanha dos Mantimentos, que consistia em fazer plantão na porta de um grande supermercado. Um grande cartaz anunciava a campanha. Minha função era "pedir" - coisa mais desagradável para mim! Eu abordava as pessoas que entravam. A cada uma delas eu entregava um pequeno folheto e solicitava que comprasse qualquer alimento não perecível ou ítem de higiene pessoal para doá-lo ao fim das compras. O folheto apresentava resumidamente o Prato de Sopa e a campanha que então fazíamos. Tudo tinha de ser falado muito rapidamente, as pessoas quase sempre nem paravam para nos ouvir, de modo que muitas delas saíam sem ajudar. Mas a maioria doava alguma coisa. E assim foi passando a tarde. As pessoas nos entregavam ora um pacote de biscoito, ora um sabonete (e foram muitos), ora um quilo de açucar ou uma lata de óleo. A todos eu agradecia com o mesmo empenho. Às vezes alguém saía do supermercado com um pacote de 5 kg de arroz, e então todos comemorávamos. Foi quando saiu do supermercado uma família - o casal e dois filhos - cada um carregando um pacote de 5 kg de arroz, sendo que o pai trazia 2 pacotes - um total de 25 quilos de arroz. - Nossa, obrigada!, disse eu, não conseguindo esconder o espanto diante de tal donativo. O homem percebeu a surpresa que causara e me disse: - Isto não é nada! Eu comi muito no Prato de Sopa, muitas vezes era a minha única refeição no dia. Fiquei olhando ele se afastar com a mulher e os filhos, reparando em seus trajes e maneiras. Pensei comigo que talvez fôsse uma extravagância dele doar tantos sacos de arroz, mas sem dúvida ali ía um homem rico. Me emocionei muito com essa história e meu coração se encheu de orgulho por minha mãe, que se dedicava tanto ao Prato de Sopa. Eu via ali, concretizado, o resultado de seu trabalho. Jamais esqueci! |
Ana Luiza M O Giusti |
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